As variações linguísticas reúnem as variantes da língua que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia.
Dessas reinvenções surgem as variações que envolvem diversos aspectos históricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros.
No Brasil, é possível encontrar muitas variações linguísticas, por exemplo, na linguagem regional.
TIPOS E EXEMPLOS DE
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
Há diversos tipos de variações linguísticas segundo o campo de atuação:
Variação geográfica ou diatópica
As variações geográficas naturalmente falam da diferença de linguagem devido à região. Essas diferenças tornam-se óbvias quando ouvimos um falante brasileiro, um angolano e um português conversando: nos três países, fala-se português, mas há diferenças imensas entre cada fala. Veja as variações entre o português do Brasil e de Portugal, chamadas de regionalismo:
“Mandioca”, “aipim” ou “macaxeira”? Os três nomes estão corretos, mas, dependendo da região do Brasil, você ouvirá com mais frequência um ou outro. O mesmo vale para a polêmica disputa entre “biscoito” e “bolacha”, que se estende para todo o território nacional.
Variação histórica ou diacrônica
Ela ocorre com o desenvolvimento da história, tal como o
português medieval e o atual.
Exemplo de português arcaico
"Elípticos",
"pega-la-emos" são formas que caíram em desuso.
As variações históricas tratam das mudanças ocorridas na língua com o decorrer do tempo. Algumas expressões deixaram de existir, outras novas surgiram e outras se transformaram com a ação do tempo.
Um clássico exemplo da língua portuguesa é o termo “você”: no português arcaico, a forma usual desse pronome de tratamento era “vossa mercê”, que, devido a variações inicialmente sociais, passou a ser mais usado frequentemente como “vosmecê”. Com o passar dos séculos, essa expressão reduziu-se ao que hoje falamos como “você”, que é a forma incorporada pela norma-padrão (visto que a língua adapta-se ao uso de seus falantes) e aceita pelas regras gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o uso da abreviação “cê” ou, na escrita informal, “vc” (lembrando que estas últimas formas não foram incorporadas pela norma-padrão, então não são utilizadas na linguagem formal).
Vossa mercê → Vosmecê
→ Você → Cê
Outras mudanças comuns são as de grafia, as quais as reformas ortográficas costumam regular. Assim, a partir de 2016, a palavra “consequência” passou a ser escrita sem trema, sendo que antes era escrita desta forma: “conseqüência”. Do mesmo modo, a palavra “fase” é hoje escrita com a letra f devido à reforma ortográfica de 1911, sendo que antes era escrita com ph: “phase”.
Conseqüência →
Consequência
Phase → Fase
Vale, ainda, comentar a respeito de palavras que deixam
de existir ou passam a existir. Isso acontece frequentemente com as gírias: se
antes jovens costumavam dizer que algo era “supimpa”
ou que “aquele broto é um pão”, hoje
é mais comum ouvir deles que algo é “da
hora” ou que “aquela mina é mó
gata”.
Variação social ou diastrática
As variações sociais são as diferenças de acordo com o grupo social do falante. Embora tenhamos visto como as gírias variam histórica e geograficamente, no caso da variação social, a gíria está mais ligada à faixa etária do falante, sendo tida como linguagem informal dos mais jovens (ou seja, as gírias atuais tendem a ser faladas pelos mais novos).
Exemplo de variação diastrática
A linguagem técnica utilizada pelos
médicos nem sempre é entendida pelos seus pacientes
Variação
situacional ou diafásica
As variações estilísticas remetem ao contexto que exige a adaptação da fala ou ao estilo dela. Aqui entram as questões de linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou despreocupação com seu uso. O uso de expressões rebuscadas e o respeito às normas-padrão do idioma remetem à linguagem tida como culta, que se opõe àquela linguagem mais coloquial e familiar. Na fala, o tom de voz acaba tendo papel importante também. Ocorre de acordo com o contexto, por exemplo, situações formais e informais. As gírias são expressões populares utilizadas por determinado grupo social.
Exemplo de gíria:
· Gata ou gato = mulher bonita, homem bonito.
· Baranga = mulher feia.
· Coroa = pessoa idosa.
· Corno = pessoa traída.
· Magrela = bicicleta.
· Abrir o jogo = contar a verdade.
· Arrancar os cabelos = ficar desesperado.
· Baixar a bola = ficar calmo.
A Língua
Brasileira de Sinais (Libras) também tem as suas gírias:
Linguagem formal e informal
A linguagem formal e informal são duas variantes linguísticas que possuem o intuito de comunicar. No entanto, elas são utilizadas em contextos distintos.
Sendo assim, é muito importante saber diferenciar essas duas variantes para compreender seus usos em determinadas situações.
Quando falamos com amigos e familiares utilizamos a linguagem informal. Entretanto, se estamos numa reunião na empresa, numa entrevista de emprego ou escrevendo um texto, devemos utilizar a linguagem formal.
EXEMPLO DE LINGUAGEM
FORMAL:
Doutor Armando seguiu até a esquina para encontrar o filho que chegava da escola, enquanto Maria, sua esposa, preparava o almoço.
Quando chegaram em casa, Armando e seu filho encontraram Dona Maria na cozinha preparando uma das receitas de família, o famoso bolo de fubá cremoso, a qual aprendera com sua avó Carmela.
EXEMPLO DE LINGUAGEM
INFORMAL OU COLOQUIAL:
O Doutor Armando foi até a esquina esperá o filho que chegava da escola. Nisso, a Maria ficou em casa preparando o almoço.
Quando eles chegarão em casa a Maria tava na cozinha preparando a famosa receita da família boa pra caramba o bolo de fubá cremoso.
Preconceito linguístico
Tendo tantas variações e nuances, pudemos ver que cada contexto social traz naturalmente um modo mais ou menos adequado de expressão, sendo importante entender que as variações linguísticas existem para estabelecer uma comunicação adequada ao contexto pedido.
Apesar disso, as diversas maneiras de expressar-se ganham status de maior ou menor prestígio social baseado em uma série de preconceitos sociais: as variações linguísticas ligadas a grupos de maior poder aquisitivo, com algum tipo de status social, ou a regiões tidas como “desenvolvidas” tendem a ganhar maior destaque e preferência em relação às variedades linguísticas ligadas a grupos de menor poder aquisitivo, marginalizados, que sofrem preconceitos ou que são estigmatizados.
Desenvolve-se, assim, o preconceito linguístico, que se baseia em um sistema de valores que afirma que determinadas variedades linguísticas são “mais corretas” do que outras, gerando um juízo de valor negativo ao modo de falar diferente daqueles que se configuram como os “melhores”. O preconceito linguístico nada mais é do que a reprodução, no campo linguístico, de um sistema de valores sociais, econômicos e culturais.
No entanto, ao estudarmos as variações linguísticas, percebemos que não há uma única maneira de expressar-se e que, portanto, não há apenas um modo certo. A língua e sua expressão variam de acordo com uma série de fatores. Antes de tudo, ela deve cumprir seu papel de expressão, sendo compreendida pelos falantes e estando adequada aos contextos e às expectativas no ato da fala. Dessa forma, o ideal do preconceito linguístico, que gera juízo de valor às diferentes variações linguísticas, não deve ser alimentado.
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