ARTIGO
DE OPINIÃO
O artigo de opinião é
um dos gêneros mais comuns no cotidiano das cidades.
Publicado normalmente em jornais, revistas e blogs, esse tipo de texto tem como
função apresentar e defender um ponto de vista sobre algum assunto
relevante para a sociedade. Muitas faculdades e universidades
costumam solicitar aos seus candidatos que produzam artigos de opinião em seus
vestibulares.
CARACTERÍSTICAS
O artigo de opinião é um
gênero argumentativo, ou seja, é um tipo de texto que defende um ponto de
vista por meio de argumentos. A linguagem usada no artigo de opinião costuma
alinhar-se à norma-padrão da língua portuguesa, haja vista que o
texto deve ser compreendido por diversos tipos de pessoas, muitas vezes de
regiões completamente distintas — como é o caso dos artigos publicados em
jornais de alcance nacional no Brasil.
Para além disso, justamente
por se tratar de uma publicação da imprensa, o assunto abordado nesse tipo de
texto costuma ser de relevância coletiva: fatos importantes,
ocorridos nos dias ou semanas anteriores, costumam ser os temas do
artigo de opinião. Nesse sentido, o gênero tem uma função social clara:
promover o debate público sobre as demandas da sociedade.
ESTRUTURA
Por ser um texto argumentativo, o artigo de opinião
apresenta três partes fundamentais:
INTRODUÇÃO COM TESE
Os
parágrafos iniciais de um artigo de opinião costumam ser reservados para
apresentar o assunto abordado e, além disso, o ponto de vista defendido pelo
autor. Chamamos esse ponto de vista de tese. No caso das redações
escolares e propostas de vestibulares, é comum que somente o primeiro
parágrafo da composição seja destinado para essa função, pois, nesse tipo
de produção textual, o número de linhas é restrito.
Veja,
a seguir, a introdução de um artigo de opinião produzido por Débora Diniz e
Giselle Carino, publicado no jornal El País Brasil:
Violência obstétrica,
uma forma de
desumanização das mulheres
A expressão 'violência
obstétrica' ofende médicos. Dizem não existir o fenômeno, mas casos isolados de
imperícia ou negligência médicas. O que aconteceu com a brasileira Adelir Gomes,
grávida e forçada pela equipe de saúde a realizar uma cesárea contra sua
vontade, dizem ser um caso extremo, escandalizado pelas feministas como de
violência obstétrica. Não é verdade. A violência obstétrica manifesta-se de
várias formas no ciclo de vida reprodutiva das mulheres. Em cada mulher
insultada verbalmente porque sente dor no momento do parto ou quando não lhe
oferecem analgesia. Na violência sexual sofrida em atendimento pré-natal ou em
clínicas de reprodução assistida. No uso de fórceps, na proibição de doulas ou
pessoas de confiança na sala de parto. Na cesárea como indicação médica para o
parto seguro. A verdade é que a violência obstétrica é uma forma de
desumanização das mulheres.
Jornal El País Brasil, 20 de março de
2019.
É
notável, nesse trecho inicial do texto, a presença das duas partes fundamentais
da introdução de um artigo de opinião: a apresentação do tema —
“violência obstetrícia” — e a defesa de uma tese ou ponto de vista —
“A verdade é que a violência obstétrica é uma forma de desumanização das
mulheres”.
DESENVOLVIMENTO COM ARGUMENTAÇÃO
Uma
vez que a tese é apresentada na introdução do artigo de opinião, é esperado
que, nos parágrafos intermediários — também chamados de desenvolvimento —,
apresentem-se argumentos que
comprovem o ponto de vista.
Um
argumento costuma ter duas partes: a fundamentação e a análise do
fundamento. A primeira corresponde às informações, fatos, dados,
referências, entre outros, que o articulista busca para embasar sua opinião; a
segunda, ao trecho em que o autor relaciona explicitamente o
fundamento utilizado com a tese defendida.
Ainda
seguindo o exemplo dado anteriormente, observe a seguir um dos argumentos
usados pelas articulistas Débora Diniz e Giselle Carino:
Mulheres negras,
indígenas e com deficiência estão entre as mais vulneráveis à violência
obstétrica. Um estudo da Universidade de Harvard, realizado em quatro países
latino-americanos, mostrou que uma em cada quatro mulheres vivendo com HIV/aids
foi pressionada à esterilização após receber o diagnóstico. Evidências
igualmente assustadoras foram identificadas no México, onde a Organização das
Nações Unidas condenou o país pela esterilização forçada de quatorze indígenas
pelo sistema de saúde público. No Brasil, um estudo no Mato Grosso descreveu a
correlação entre etnia e morte materna — mulheres indígenas têm quase seis
vezes mais chances de morrer no parto que mulheres brancas. Pouco sabemos da
realidade de mulheres com deficiência, em particular daquelas com deficiência
intelectual. O senso comum diz que devem viver sem sexualidade e que são
incapazes de decidir suas vivências reprodutivas.
Jornal El País Brasil, 20 de março de
2019.
Nesse caso, são usados como
fundamentos: um estudo da Universidade de Harvard, outro da Organização das
Nações Unidas e mais um feito no Mato Grosso. Com base nessas pesquisas,
as articulistas relacionam as informações citadas com a tese ao
afirmarem que “Pouco sabemos da realidade de mulheres com deficiência, em
particular daquelas com deficiência intelectual. O senso comum diz que devem
viver sem sexualidade e que são incapazes de decidir suas vivências
reprodutivas”.
CONCLUSÃO
A conclusão de um artigo de
opinião costuma apresentar uma síntese do desenvolvimento do texto e,
em seguida, reiterar a tese, agora comprovada pelos argumentos. Veja como
é a conclusão do texto de Débora Diniz e Giselle Carino:
Argentina e Bolívia
também avançaram em legislações para proibir a violência obstétrica — estar
livre de violência baseada em gênero deve incluir a violência obstétrica. É
preciso avançar rapidamente neste campo, seja pela via legal ou pela
transformação dos costumes e práticas. A legislação boliviana menciona
'violência contra os direitos reprodutivos': se devidamente interpretada, a
criminalização do aborto ou os maus-tratos sofridos pelas mulheres em processo
de abortamento nos hospitais são formas de violência obstétrica. Meninas e
mulheres forçadas, involuntariamente, ao parto e à maternidade são casos de
violência obstétrica. Por isso, às histórias de dor física ou abusos verbais de
nossas mães e avós, devemos somar as histórias da clandestinidade do aborto —
as leis restritivas de aborto atingem 97% das mulheres em idade reprodutiva na
América Latina e Caribe. Todas essas são expressões da violência obstétrica,
uma forma silenciosa e perene de violência baseada em gênero.
Jornal El País Brasil,
20 de março de 2019.
É
perceptível, portanto, que a conclusão do artigo de opinião das
autoras repete resumidamente a linha argumentativa desenvolvida
no texto. Em seguida, a tese é reiterada, agora comprovada — “Todas essas são
expressões da violência obstétrica, uma forma silenciosa e perene de violência
baseada em gênero”.
COMO COMEÇAR O ARTIGO DE OPINIÃO
A melhor maneira de começar
um artigo de opinião é, antes de tudo, desenvolvendo um planejamento e
um projeto de texto. Planejando e projetando antes de escrever, é muito
provável que a composição resulte-se clara, coerente e bem fundamentada.
Veja, no próximo tópico, um passo a passo de como escrever o artigo de opinião.
Passo a passo
Podemos dividir o processo
de produção de texto em três partes básicas:
Planejamento
e projeto de texto.
O primeiro passo na
composição textual deve ser o da reflexão, leitura e organização das
ideias a serem desenvolvidas no texto. Nessa parte, é necessário que o autor do
artigo de opinião defina:
Tema;
Tese;
Fundamentos
da argumentação;
Organização lógica do texto
(aqui, define-se o que deve haver em cada parágrafo, ou seja, qual será a
trajetória discursiva usada pelo autor para defender seu ponto de vista no
texto).
RASCUNHO
Uma vez que o projeto de
texto já estiver definido, é o momento de transcrever as ideias
projetadas na forma de texto em prosa, ou seja, é a hora de escrever o
texto na forma de: parágrafos introdutórios, desenvolvimento e de conclusão. É
muito importante que o rascunho seja um produto do projeto de
texto e não se desvie da trajetória discursiva planejada.
REVISÃO
Por fim, após o texto estar
praticamente pronto, resta revisar questões de ordem gramatical,
como ortografia, acentuação ou pontuação.
Assim como no rascunho, não é aconselhável que o autor mude informações
previamente projetadas e desenvolvidas nas partes anteriores.
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